A pressa em se mostrar, o vício de se expor e o desejo de ser aceito fazem ecoar uma multidão de vozes, mas poucas carregam essência. As imagens compartilhadas, recheadas de frases cortantes, não são apenas estética: são sintomas de uma alma coletiva em conflito. O lobo que se esconde entre as ovelhas, o clique sorridente que por trás da tela te fere, o parasita que se agarra à tua bondade — tudo isso não é novidade, é apenas a repetição moderna de dramas antigos. A Bíblia nas mãos de uma criança é pureza; a mesma Bíblia usada como escudo de impostores é manipulação. Não se trata de acaso, mas de um retrato fiel da confusão moral dos nossos dias.
A dor silenciosa nos ensina o que o barulho nunca revelará. A mente humana, pressionada por frustrações e rejeições, ergue defesas invisíveis. Uns se escondem atrás da máscara da vítima, outros sobrevivem sugando a ingenuidade alheia. O excesso de afeto mendigado, que tantos exibem como carência disfarçada de ternura, não se cura com curtidas digitais, mas com limites firmes. Aprender a dizer “não” é como trocar a fechadura da alma: não impede visitas, mas seleciona quem merece entrar. É nesse gesto que nasce a dignidade.
O futuro pertencerá não aos que gritam mais alto, mas aos que sabem ouvir o silêncio. Veremos mais pessoas buscando autenticidade em vez de aprovação, profundidade em vez de aplauso. A espiritualidade deixará de ser vitrine e voltará a ser bússola. E aqueles que aprenderem a diferenciar o amigo verdadeiro do colega de ocasião, o justo do manipulador, escaparão dos naufrágios emocionais que hoje se disfarçam de conexões virtuais. Porque, no fim, a dor silenciosa não destrói — ela lapida. É dela que nasce a sabedoria que não se compra, que não se posta, mas que se vive.
E talvez essa seja a grande lição: o mundo pode continuar acelerado, superficial e ruidoso, mas quem atravessa o vale da dor em silêncio carrega dentro de si uma força inabalável. Essa força não precisa de palcos, nem de plateias. Ela floresce na solidão, resiste nas tempestades e se revela no olhar de quem aprendeu a viver com profundidade. A sabedoria que nasce da dor silenciosa é, acima de tudo, a prova de que até no sofrimento existe um chamado para a grandeza.
Júnior Chisté, psicólogo,
escritor e palestrante.
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