Delírios são interpretações equivocadas da realidade, como, por exemplo, julgar-se vítima de uma perseguição. Os delírios mais comumente verificados são os persecutórios e os de grandeza. Este último foi muito explorado, por muito tempo, em piadas nada respeitosas com as pessoas que vivem com esquizofrenia, em que um paciente em um hospital psiquiátrico afirma ser Jesus Cristo ou Napoleão Bonaparte. Geralmente, nos delírios de grandeza, a pessoa se considera alguém muito importante, não raro até pessoas de grande importância histórica, como nos dois exemplos citados.
Alucinações são percepções sem objeto, ou seja, ouvir um som que não foi emitido, ter uma sensação tátil sem que nada justifique isso ou enxergar o que não existe. Todos os sentidos podem estar envolvidos, embora sejam mais comuns alucinações auditivas e visuais.
A esquizofrenia é um transtorno mental com múltiplos impactos na vida da pessoa, pois afeta, ou pode afetar, a vida social, a vida sexual, o trabalho, o estudo, o autocuidado e o asseio pessoal, a prática religiosa e a vida financeira. São muitas perdas que a pessoa enfrenta e isso diminui muito a qualidade de vida.
No entanto, a boa notícia é que existem medicamentos para controlar os sintomas. E, sim, é possível ter uma vida plena, com trabalho, com estudo, com autonomia financeira e com envolvimento positivo em diversas situações sociais. Os antipsicóticos foram lançados no início dos anos 1950 e, de lá para cá, muitos novos fármacos foram surgindo. A grande vantagem nos novos medicamentos é a segurança e a comodidade posológica. Quanto à segurança, alguns efeitos adversos puderam ser minimizados com as novas estratégias terapêuticas. Em relação à comodidade posológica, há medicamentos, disponíveis hoje no mercado farmacêutico, que são aplicados uma vez a cada três meses, ou seja, com quatro injeções ao longo do ano obtém-se o controle dos sintomas.
Mas a efetividade pouco mudou. Praticamente todos os antipsicóticos apresentam o mesmo potencial para promover um efeito terapêutico. Isso justifica a permanência de medicamentos bem antigos, lançados ainda nos anos 1950, principalmente em sistemas públicos de saúde. Esses medicamentos, embora tenham sido lançados há, aproximadamente, setenta anos, continuam sendo muito utilizados, pois o preço é absurdamente baixo em comparação aos medicamentos lançados mais recentemente. O problema desses medicamentos mais antigos é o perfil de segurança, pois têm grande potencial para sedação e ganho de peso. E como a esquizofrenia é uma doença crônica, o que demanda uso de antipsicóticos por toda a vida, o ganho de peso pode ser bem considerável, levando a um aumento de 10 kg ou mais em dez anos. Isso é bem preocupante, pois muitos pacientes podem ter um risco cardiovascular elevado, o que exige um acompanhamento rigoroso para evitar complicações.
Enfim, esquizofrenia tem tratamento (e este é efetivo e relativamente seguro), muitos medicamentos são disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e a vida com esquizofrenia, desde que controlada, é muito similar à vida sem esquizofrenia.
Portanto, se você apresenta ou já apresentou delírios e/ou alucinações, e isso não foi provocado pelo uso de substâncias psicoativas, deve procurar um médico para submeter-se a uma avaliação. O ideal seria uma consulta com um psiquiatra, mas, como isso nem sempre é possível, todo e qualquer médico pode prescrever antipsicóticos. A realidade criada pelos delírios e alucinações pode ser muito perturbadora e isso mostra a importância de um tratamento adequado, que permite o retorno à realidade mais próxima do real.
Rodrigo Batista de Almeida
Professor do Instituto Federal do Paraná (IFPR).

Comentários: