Recentes casos de intoxicação por metanol em bebidas adulteradas expuseram uma ferida grave: a negligência com o controle de qualidade e a fragilidade na fiscalização. Vidas foram perdidas, famílias devastadas, e um alerta nacional ecoou — não há progresso possível onde a segurança é deixada de lado.
O metanol, embora presente naturalmente em pequenas quantidades na fermentação, torna-se letal quando ultrapassa os limites seguros. E esse limite só é respeitado quando existe comprometimento. O controle de qualidade não é apenas uma formalidade técnica ou um checklist de laboratório — é um ato de responsabilidade moral e humana. É o compromisso silencioso que garante que o produto que chega à mesa das pessoas não trará dor, mas confiança.
A tragédia recente escancara um problema que vai muito além da substância química: a falta de controle sobre o destino das garrafas de vidro. Em um ciclo de descuido, embalagens usadas são revendidas e reaproveitadas por criminosos que as enchem com líquidos perigosos, mascarados por rótulos conhecidos. O que era símbolo de celebração se torna instrumento de destruição.
A reciclagem surge aqui não apenas como uma questão ambiental, mas como uma ferramenta de segurança pública. Destinar corretamente as garrafas significa impedir que embalagens originais caiam nas mãos erradas. É um gesto simples, mas que carrega impacto profundo — reduz riscos, fortalece a economia circular e protege vidas.
Bares, restaurantes e distribuidores têm um papel essencial nessa corrente. Escolher fornecedores certificados, exigir padrões de qualidade e seguir normas de rastreabilidade não é apenas uma prática ética — é uma decisão que salva vidas. Cada garrafa segura, cada produto testado, cada processo auditado representa um elo de confiança entre empresas e consumidores.
As certificações são o selo visível desse compromisso. Elas traduzem em normas e procedimentos aquilo que a consciência já deveria saber: qualidade é segurança, e segurança é respeito à vida. Quando um estabelecimento opta por fornecedores certificados, ele está, na verdade, optando por zelar por seus clientes e por sua própria credibilidade.
É urgente ressignificar o olhar sobre o controle de qualidade. Ele não é custo, — é investimento vital. É o que separa o improviso da excelência, a pressa da responsabilidade, o descuido da confiança.
Que este triste episódio sirva como espelho e como lição. Que nunca mais precisemos de tragédias para entender que a vida deve ser o primeiro parâmetro de qualquer processo produtivo. Porque quando a qualidade é negligenciada, o risco não é apenas de perder clientes — é de perder vidas.
E não há produto, lucro ou atalho que justifique isso.
Júnior Chisté,
psicólogo, escritor e palestrante.
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