O encanto pelo outro era tão grande que ela própria se diminuía. Suas palavras eram reveladoras: “Eu nunca vou encontrar alguém tão especial como ela”. Ao pronunciar isso, sem perceber, estava se colocando em posição de inferioridade, alimentando pensamentos de autossabotagem e reforçando a ideia de que apenas o outro possuía valor.
Esse é um dos grandes erros emocionais que cometemos: endeusar o outro e esquecer de nós mesmos. É claro que enxergar qualidades em quem amamos é saudável, mas quando esse olhar se transforma em adoração cega, passamos a viver à sombra, como se fôssemos coadjuvantes da nossa própria história. Nos esquecemos de que qualquer relacionamento é um encontro de dois mundos, duas histórias e dois valores que se somam, nunca uma anulação de um para que o outro brilhe sozinho.
A psicologia nos mostra que pensamentos de inferioridade e padrões de autossabotagem estão diretamente ligados a crenças centrais negativas: “não sou bom o bastante”, “não mereço ser amado”, “o outro sempre será melhor do que eu”. Quando carregamos essas distorções, não apenas diminuímos nossa autoestima, mas também comprometemos a qualidade dos vínculos que criamos. Afinal, se eu mesmo não reconheço meu valor, como posso esperar que o outro o reconheça?
Uma reflexão poderosa que deveria acompanhar qualquer relacionamento é: “Se essa pessoa tão especial escolheu estar comigo, por quê?” Essa pergunta muda o ângulo do olhar. Ela nos leva a perceber que, se o outro está ali, é porque encontrou em nós valores, qualidades e virtudes que também são especiais. Reconhecer isso não é arrogância, mas consciência. É assumir que também temos brilho, que também temos importância e que merecemos estar em primeiro plano em nossa própria vida.
Relacionamentos saudáveis não se constroem com idolatria, mas com equilíbrio. Não se trata de competir para ver quem é “mais especial”, mas de reconhecer que ambos carregam valor, que ambos têm algo único a oferecer e que a verdadeira beleza está no encontro dessas duas riquezas. O amor deixa de ser fardo quando cada um se reconhece como inteiro.
Por isso, antes de se perder no fascínio do outro, lembre-se de olhar para si mesmo. Liste suas qualidades, reconheça suas conquistas, valorize seus princípios. Quando você se coloca em primeiro plano, sem egoísmo, mas com consciência, evita cair na armadilha da autossabotagem. Porque o verdadeiro amor não é aquele em que um se ajoelha e o outro é elevado, mas aquele em que dois caminham lado a lado, ambos conscientes de que carregam dentro de si um valor que não pode ser esquecido.
Júnior Chisté,
psicólogo, escritor e palestrante.
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